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T e x t o s & T e x t u r a s

Carinho de cidade natal

Casa da Praça, Castro, PR

   

Muitíssimo obrigado!

Cumprimento as autoridades na pessoa do Exmo. Sr. Vereador, Joel Elias Fadel, Presidente da Câmara Municipal de Castro.

E para saudar a todos os demais presentes repito aqui o que escrevi ao Exmo. Sr. Vereador Joel, em resposta ao ofício 186/2011, enviado para  dar-me ciência da outorga deste inesperado Título:

[Abre aspas] Receber seu ofício foi para mim motivo de profunda satisfação e alegria. Naturalmente sinto-me muito aquém de tal honra, e só posso atribuir tamanha deferência à infinita generosidade do povo castrense e à bondade dos seus representantes.

Espero poder estar presente à solenidade no dia aprazado, muito mais para abraçar meus queridos conterrâneos e oferecer minha gratidão do que para ser homenageado. [Fecha aspas].

Com a graça de Deus, foi-me concedida a alegria de estar aqui para cumprir minha palavra e abraçar meus ilustríssimos concidadãos, familiares, mestres, amigas e amigos, que hoje comparecem para esta cerimônia, e em particular os caríssimos castrenses, muito mais brilhantes que eu, que comigo repartem esta honraria e recebem o mesmo carinho da nossa querida cidade natal.

Há entre nós os que são, como eu, filhos de Castro por nascimento, e os há por adoção. Meus pais, por exemplo: a Dona Odete, que no último dia 4 completou 78 anos; e Seu Francisco, que dentro de dois meses completará 80, são castrenses de coração, que aqui se estabeleceram desde o tempo da saudade.

E, se me permitirem, na pessoa deles quero abraçar a todos que igualmente fizeram desta estância de tropeiros o seu lar. Para isso, ofereço-lhes um poema que um dia escrevi para declamar “A Alma da Minha Casa” (com estilo desavergonhadamente surrupiado ao incomparável Manoel de Barros):

Atrás da minha casa de menino o rio fazia cur­vas, e ainda faz.
Da varanda dos fun­dos a gente ouvia o coa­xar do rio.
Ainda hoje as flo­res cap­tu­ram beija-flores e os liber­tam de beijos.

Quando a rua da minha casa ainda não tinha cal­çada,
a gente divi­sava um ombro de bar­ranco
e o esca­lava pra esti­car os horizontes.

Na cozi­nha, o fogão à lenha esta­lava o calor do inverno.
A cha­leira fazia um chi­ado cinza pra fer­ver a água.

A gente se ani­nhava ao redor da vitrola
pra escu­tar estó­rias ama­re­las, ver­des e azuis.
Escu­tava e tor­nava a escu­tar.
Repe­tia e repe­tia e repe­tia até ficar diferente.

À noite a gente ador­me­cia um canto de ninar materno.

A minha casa de menino tem uma alma
que alguns cha­mam “Odete”.
Pra mim, o som que ela fazia era “Mãe”,
e ainda faz.

Também quero repartir este título como aqueles e aquelas que nasceram aqui mesmo, sob os pinhais que verdejam às margens do Iapó. Alguns, como eu, pelas mais diferentes razões, tivemos que partir, mas jamais deixamos que se distanciasse de nós a casa da aurora da nossa vida. Um belo símbolo desse umbigo, cicatriz materna que não nos deixa esquecer nunca das nossas origens, é a nossa igreja “Matriz”, plantada no coração da Freguesia de Sant’Ana do Iapó. (E, como teólogo e clérigo protestante, por este poema, também expresso meu compromisso ecumênico e anelo de solidariedade, conivência fraterna e respeito entre as pessoas de todos os credos e confissões religiosas. E mesmo com aqueles e aquelas que não professem credos desse tipo. Somos todos humanos, e isso nos faz, antes de qualquer coisa, irmãos e irmãs.) Por isso um dia também suspirei:

O sino dobra
na Matriz da minha aldeia.

O reló­gio bate con­ti­nên­cia
pr’o tempo que vai passando.

Rui­dosa, a torre faz bléim, bléim
pr’o Ipê, que da praça res­ponde fazendo o amarelo.

Em setem­bro o silên­cio do céu é mais azul,
a cor do pinheiro é alta de bra­ços abertos.

Daqui onde estou
diviso a minha aldeia tão de perto.

A autobiografia de um livro infantil que escrevi termina assim (e assim também termino meu pronunciamento):

Quando cresci, tornei-me um astronauta a meu modo. […]

Descobri que o telescópio mais poderoso que temos não é o Hubble, mas a imaginação. E o combustível mais poderoso, capaz de nos levar mais longe, é o pensamento. É desse modo, com essas ferramentas científicas e imaginatíficas, que passei a explorar mundos conhecidos e desconhecidos.

Mas devo confessar: por mais longe que eu vá, sempre a saudade me traz de volta àquela pequena estância de tropeiros, nos sertões paranaenses. Porque a viagem mais fascinante de todas é aquela que fazemos em busca de nós mesmos.

Ilustres irmãos e irmãs Castrenses (de nascimento e de coração), recebam com estas modestas palavras, meu afetuoso e eternamente grato abraço.

Muitíssimo obrigado!

Luiz Carlos Ramos
(11.09.2011)

10 Comentários

  1. Seu discurso foi emocionante e muito especial. Senti-me feliz, honrada e abençoada em poder ter acompanhado ao vivo.
    Muitas felicidades, sempre. Parabéns! Que Deus continue lhe abençoando e a outros castrenses, que como você, levam sua luz para outras paragens!

  2. Seu discurso foi emocionante e muito especial. Senti-me feliz, honrada e abençoada em poder ter acompanhado ao vivo.
    Muitas felicidades, sempre. Parabéns! Que Deus continue lhe abençoando e a outros castrenses, que como você, levam sua luz para outras paragens!

  3. Parabéns! Este deve ser um prêmio muito especial.

  4. Parabéns! Este deve ser um prêmio muito especial.

  5. Parabéns grande Luiz! Você merece. Abraço.

  6. Parabéns grande Luiz! Você merece. Abraço.

  7. Luiz Carlos, cidadão Castrense e cidadão da alegria litúrgica.

  8. Luiz Carlos, cidadão Castrense e cidadão da alegria litúrgica.

  9. Luiz Carlos
    Foram lindas suas palavras, as lágrimas que meus irmãos e eu compartilhamos testemunharam seu coração puro de menino-“piá”.
    Castro, a rua Maestro Benedito Pereira, os ipês, os pinheiros, o céu de setembro…a Matriz agradecem sua presença.

  10. Luiz Carlos
    Foram lindas suas palavras, as lágrimas que meus irmãos e eu compartilhamos testemunharam seu coração puro de menino-“piá”.
    Castro, a rua Maestro Benedito Pereira, os ipês, os pinheiros, o céu de setembro…a Matriz agradecem sua presença.

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