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T e x t o s & T e x t u r a s

É Natal: Nosso Deus recém-nasceu!

 

(Leituras bíblicas: Isaías 11.1-9; Gálatas 4.4-7 e Lucas 2.1-7)

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Isaías 11.1-9: Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo. 2 Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR. 3 Deleitar-se-á no temor do SENHOR; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; 4 mas julgará com justiça os pobres e decidirá com eqüidade a favor dos mansos da terra; ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso. 5 A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos seus rins. 6 O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. 7 A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. 8 A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. 9 Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar.

Isaías 11.1-9 anuncia o messias criança. Sobre o messias repousará o Espírito de YaWeH. Será diferente dos reis que o antecederam, pois “julgará com justiça os pobres e decidirá com equidade a favor dos mansos da terra”.

O messias será uma criança, sim: “um pequenino os guiará”. Uma criança que será capaz de trazer o Shalom e fazer habitar em paz lobos e cordeiros, leopardos e cabritos, leõezinhos e animais cevados, vacas e ursas, leões e bois, crianças e serpentes. O medo dará lugar à esperança, a guerra à paz.

O restante do povo de Deus será finalmente resgatado do exílio e da diáspora: “Naquele dia, o Senhor tornará a estender a mão para resgatar o restante do seu povo”. Uma criança, descendente de Davi, cheia do Espírito de YaWeH, trará justiça aos pobres, decidirá em favor dos mansos, estabelecerá o Shalom e guiará as nações no caminho da paz.

Gálatas 4.4-7:  vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, 5 para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. 6 E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! 7 De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus.

O texto de Gálatas 4.4-7 também anuncia o messias como uma criança (gr.: huiós = filho, criança), nascida de mulher na plenitude dos tempos para resgatar a humanidade de debaixo da Lei e, igualmente, fazer de nós crianças (huiós) de Deus, herdeiros/as aptos/as a chamá-lo “Abbá”, o Pai. O termo huiós (criança, filho) aparece 6 vezes em 4 versículos, denotando a força da ideia de que a criança é protagonista na economia da salvação.

Lucas 2.1-7: Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. 2 Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. 3 Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. 4 José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, 5 a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, 7 e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.

A relação direta entre Isaías 11, Gálatas 4 e Lucas 2 é, portanto, a referência ao protagonismo da criança na história da salvação.

Não deixa de admirar que um evento de tal magnitude para a fé cristã seja relatado de maneira tão sucinta por Lucas (2.1-7). A chegada daquele que era esperado por séculos, daquele que haveria de transformar o mundo com suas ideias e salvá-lo com seu amor, não merece mais do que 100 palavras.

No entanto, nessa breve narrativa, que descarta o acessório, as informações essenciais estão lá, precisas: o quê, quem, quando, onde, em que circunstâncias…

O quê: o ápice da narrativa é o nascimento de uma criança. Para isso concorrem todos os demais “detalhes”. A criança é o centro da narrativa, o centro da história, o centro do mundo.

Quem: O nome “Jesus” não aparece nesses 7 versículos. A personagem principal da história recebe, no texto, a singela designação de “criança” (em gr. huiós) ou, simplesmente, “filho” de Maria e José. Outras personagens são mencionadas, inclusive imperadores e reis, mas estas são secundárias ou subordinadas à criança recém-nascida.

Onde: Conquanto descendentes de Davi, está aí uma família humilde e pobre, que não tem recursos para hospedar-se com luxo ou maior conforto em Belém. Não havia lugar na hospedaria (cenáculo, no original) para eles. A família enfrenta com resignação ver vir à luz o primeiro filho em tão precárias condições. Ao longo do evangelho de Lucas, Jesus tratará de transformar os cenáculos, frequentemente excludentes na cultura semítica, em espaço de acolhimento comunal do banquete do reino. Jesus nasce em Bethlehem, literalmente a “casa do pão”, e passará sua vida lutando para que ninguém mais fique sem pão, nem seja excluído da mesa. Ressurreto, o Cristo tornará a se apresentar aos discípulos e discípulas no cenáculo. Desta vez será recebido com hospitalidade e se sentará com eles e elas à mesa (vd. o episódio de Emaús, em Lc 24.13ss).

Quando: Se isso se deu em 6 a.D. ou em 6 d.C., não dá pra saber com certeza. A despeito das dificuldades quanto à historicidade, o que Lucas deixa claro é que a história humana está subordinada à história divina. Que, nessa perspectiva, mesmo que sem ter consciência disso, os maiores e mais poderosos governantes estão a serviço de Deus e daqueles mais pequeninos, que são os seus filhos e filhas. “Completaram-se-lhe os dias” (v. 6), e é isso que importa: a “plenitude dos tempos” (Gl 4.4). Chegou o tempo em que Deus nasce criança.

Como (circunstâncias): O recenseamento, a falta de lugar, a gravidez, as faixas que envolveram a criança, a manjedoura na qual foi colocada… tudo dá colorido discreto à narrativa. Da periferia do mundo, sem pompa nem circunstância, na discrição que lhe é peculiar, Deus vem! Deus se revela nas coisas pequenas que mal se veem. Para ver essas coisas pequenas é preciso abrir os olhos da fé.

 Luiz Carlos Ramos
(Natal 2013)

Um comentário

  1. Muito lindo texto. Deus antes de nos salvar com o ensaguentado da cruz — já havia nos salvado com a delicadeza e sineleza de uma criança.

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