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T e x t o s & T e x t u r a s

Não saia por aí dizendo que foi meu aluno…

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Via Crucis: uma estrada e uma cruz

A quantidade de gente que fazia fila atrás de Jesus ia aumentando cada vez mais. Até que ele se virou para essa multidão e lhes falou assim:

«Todo aquele que quiser caminhar comigo deve me amar com amor maior do que aquele que dedica ao próprio pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, ou irmãs, sim, com amor maior do que o que tem pela sua própria vida. Não há outra forma para ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz, como eu estou fazendo, e caminhar pelos caminhos que eu caminho, não pode dizer que foi ou que é meu aluno.

«Portanto, ninguém deve começar a me seguir se não tiver primeiro considerado cuidadosamente o custo e as implicações dessa decisão.

«Os que vêm atrás de mim sem tomar isso em conta são tão tolos como aquele que resolve começar a construir uma torre, para vigiar sua propriedade, sem primeiro fazer os devidos cálculos e verificar se tem dinheiro suficiente para pagar as contas. Quando cai em si, descobre que sua torre nunca passará dos alicerces, por se terem esgotado os recursos. E então vira motivo de gozação de todo mundo. “Vejam aquele paspalho!”, diriam dele em tom de zombaria. “Começou uma torre, mas administrou tão mal os recursos que ficou sem dinheiro antes de a terminar!”

«Ou, ainda, age como um rei inconsequente que resolve declarar guerra ao seu inimigo sem primeiro consultar os seus conselheiros e verificar se com os dez mil homens de que dispõe terá força suficiente para derrotar os vinte mil que marcham contra ele. E quando na hora H se der conta de que não terá a menor chance de vencer, enquanto as tropas inimigas ainda vierem longe, tratará de enviar logo uma comissão de tréguas para discutir um desvantajoso tratado de paz.

«Quanto ao discipulado, é exatamente da mesma maneira: ninguém pode se tornar­ meu aluno sem ter primeiro calculado muito bem todas as implicações, todos os riscos, todas as responsabilidades que isso representa. Não há discipulado, sem que o aluno tenha a coragem de renunciar a tudo por amor a mim.

«Há decisões que tomamos que são irreversíveis. Vejam o sal, que é bom para muitas coisas, mas se acontecer de, por alguma razão, vir a perder o sabor, como poderia ele se tornar salgado de novo? Impossível, isso é algo irreversível. E o sal sem sabor não prestará para mais nada, não servirá nem de adubo, nem mesmo de entulho. Sem poder ser reciclado, só lhe resta ser irremediavelmente descartado. Puro prejuízo. Se eu fosse vocês, prestaria muita atenção nisso que estou lhes dizendo.» (Lucas 14.25-33)

* * *

Milton Schwantes, de saudosa memória, foi um dos professores mais notáveis que a Universidade Metodista de São Paulo já teve. Certa feita, retornou à faculdade um daqueles ex-estudantes que, na gíria teológica acadêmica, chamaríamos de “pica-fumo”. Ao cruzar com o velho professor pelos corredores do campus, foi logo saudando-o de modo presunçoso: “Eu fui seu aluno!” O professor Schwantes, a quem ninguém fazia de bobo, respondeu de pronto: “Não saia por aí dizendo que foi meu aluno. Diga só que você assistiu às minhas aulas.”

Têm muitos que saem por aí dizendo serem discípulos de Jesus. Melhor seria se dissessem simplesmente que frequentam a igreja, ou que só assistem aos cultos ou à Escola Dominical.

Frequentar e assistir não certifica a alguém o título de aluno de Jesus. Para isso, é preciso muito mais, são necessárias uma estrada e uma cruz! Pois, “qualquer que não tomar a sua cruz, como eu estou fazendo, e caminhar pelos caminhos que eu caminho, não pode dizer que foi ou que é meu aluno”.

Construtor paspalhão, rei abilolado e discípulo de meia pataca, se veem por aí às pencas. É só olhar para as igrejas apinhadas de gente a escorrer pelo ladrão… Querem ser discípulos sem estrada e sem cruz.

Repetem, feito papagaios, ser Jesus o caminho, sem se dar conta de que essa é uma estrada sem volta para os últimos lugares, para o serviço, para a prática da solidariedade, para a opção radical pelo novo mundo de Deus e a sua justiça… Em outras palavras, essa é uma estrada para a cruz!

E a cruz é uma encruzilhada, um cruzamento. Tomar a cruz e seguir a Cristo significa que toda vez que a nossa vontade entrar em conflito (cruzar) com a vontade de Deus, não há outra coisa a fazer a não ser optar pela vontade de Deus, ainda que contra a nossa própria pretensão.

Frequentar a igreja e assistir aos cultos com a finalidade de realizar as nossas vontades mesquinhas, de satisfazer os nossos interesses egoístas, pode ser qualquer coisa, menos discipulado.

«Todo aquele que quiser caminhar comigo deve me amar com amor maior do que aquele que dedica ao próprio pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, ou irmãs, sim, com amor maior do que o que tem pela sua própria vida. Não há outra forma para ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz, como eu estou fazendo, e caminhar pelos caminhos que eu caminho, não pode dizer que foi ou que é meu aluno.»

Pense e calcule bem antes de tomar sua decisão de seguir a Cristo, caso contrário, não saia por aí dizendo ser um discípulo…

Rev. Luiz Carlos Ramos
Para o Décimo Sexto Domingo da Peregrinação após Pentecostes, Ano C, 2016

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