Menu de navegação de página

T e x t o s & T e x t u r a s

O amor venceu a dor

Odete Henequim Ramos (✭04.09.1933–03.08.2017✢)

Graça e paz da parte daquele que é, que era e que há de vir.
Gloria seja ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, é hoje e para sempre, sempre e sem fim. Amém!

Leitura do Evangelho segundo São Mateus, no capítulo 18, dos versos 1 ao 3:

Naquela hora, aproximaram-se de Jesus os discípulos, perguntando: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.

A D. Odete abraçou incondicionalmente o convite de Jesus e decidiu voltar a ser criança. Foi assim que nos últimos tempos ela desencadeou um processo de reaprender a ser criança. E para se aprender a ser criança é preciso desaprender o mundo dos adultos.

Para que uma criança se torne adulta ela deve aprender muitas coisas e conhecer muitas pessoas. Mas, Para ser criança, a mãe passou a desconhecer certas pessoas e a desaprender certas coisas.

E assim foi desaprendendo aos poucos, a começar das memórias recentes até restarem somente as da infância, as realmente essenciais.

Ela desaprendeu a andar, desaprendeu a falar, desaprendeu a comer, desaprendeu a cuidar sozinha da saúde e da higiene…

E quem teve o privilégio de fazer isso por ela foram os seus filhos, especialmente as filhas que a cercaram de especial carinho, dia e noite, ainda mais nos últimos tempos. E tivemos que fazer pela mãe o que ela já havia feito tantas vezes por nós quando éramos bebês.

Nesse processo de se tornar criança, no entanto, duas saudades nunca a abandonaram: a saudade da sua mãe, a vó Eugenia, e a saudade da sua primeira casa.

Até o último momento ela falava de quanta falta ela sentia da sua própria mãe. E nos lembramos então do que dissera certa vez Rubem Alves sobre a saudade: “A saudade é uma criança perdida na floresta gritando: Mãe!”

É a mesma saudade que estamos sentindo hoje.

A mãe também sentia uma saudade sem fim da “sua casa”. No começo tentávamos convencê-la de que ela estava na casa dela, mas não havia meios. Sempre por volta das 5 horas da tarde, ela se arrumava, calçava os sapatos, ia para a porta e pedia “Por favor, me levem pra casa”. Então deduzimos que era da casa da infância que ela falava, de quando morava no Instituto Cristão. Chegamos a levá-la até lá, mas essa também não era a casa para onde ela queria voltar.

Finalmente compreendemos de que casa ela estava falando. Acontece que a mãe, como poucos, compreendeu bem o sentido das palavras de Cristo, registradas no Evangelho de João (14.1-6):

Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós sabeis o caminho para onde eu vou. Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.

Era dessa casa que ela sentia saudades. E é o Rubem quem mais uma vez nos lembra que “a saudade é a nossa alma dizendo para onde quer voltar”.

E foi na tarde de ontem, por volta das mesmas 5 horas, que ela finalmente encontrou o caminho definitivo para a sua verdadeira casa.

A esta altura deve estar ajudando Jesus a preparar mais cômodos para hospedar mais gente querida, porque essa era uma das coisas que ela melhor sabia fazer: receber gente em sua casa e hospedá-las em seu coração.

Para a D. Odete, toda dor e sofrimento chegaram ao fim e a própria morte foi vencida. Sobrevive, no entanto, esse amor materno, amor primeiro, amor eterno, amor inteiro.

O amor venceu a dor!

Luiz Carlos Ramos
Mensagem proferida no culto de despedida de Odete Henequim Ramos (04.09.1933 – 03.08.2017), celebrado na Igreja Presbiteriana de Castro, aos 4 de agosto de 2017.

 

5 Comentários

  1. Prezado Luiz – linda mensagem – que o Espírito do Senhor te ajude a conviver com a saudade, até o dia em que todos nós encontraremos nossos queridos e queridas na morada eterna.

  2. Quão maravilhoso é saber que um dia toda tristeza se converterá em alegria. Estaremos todos juntos nesse reencontro, pois ELE mesmo disse: “Onde estou, estejais vós também.”

  3. muito bonita e inspiradora mensagem! Que D. Odete seja feliz como criança no colo do Pai! Abração

  4. Linda, comovente e verdadeira mensagem que o filho conta sobre sua mãe e tudo o que dela ele aprendeu. Principalmente guarda a mesma certeza de que, com nossa fé em Jesus, o Cristo, podemos ter a esperança de uma casa bem melhor que tudo o que esta limitada vida nos oferece.
    Fraterno abraço, quente como o nosso chimarrão aqui no sul, meu irmão, também ao restante da tua família.
    Com carinho,

    Mara Aparecida

  5. Que o Espirito Santo console os corações elutando. Estamos orando por sua familia
    Professor.
    Linda mensagen, inspiradora para os momentos dd despedida.

Deixe uma resposta para Mara Aparecida L. de FreitasCancelar resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.