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T e x t o s & T e x t u r a s

O antídoto da serpente (II)

Crucificacao
João 3.14-21: 14 E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, 15 para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. 16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

O versículo 14 é uma alusão ao episódio narrado em Números 21, segundo o qual o povo é punido com terríveis ataques de serpentes venenosas, por causa da sua murmuração contra Moisés e contra Deus: “Por que nos fizestes subir do Egito”, reclamavam, “para que morramos neste deserto, onde não há pão nem água? E a nossa alma tem fastio deste pão vil [referindo-se ao maná]” (v. 5).

Como consequência, Deus teria mandado “serpentes abrasadoras, que mordiam o povo; e morreram muitos do povo de Israel” (v. 6). Quando as pessoas se deram conta de que, caso persistissem nessa postura rancorosa, todos pereceriam, suplicaram para que Moisés intercedesse por eles.

Desconcertantemente, a solução divina, dada para a ocasião, foi a seguinte: “Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá “ (v. 8).

Confesso a vocês a minha dificuldade para entender por que, dentre tantas alternativas possíveis, Deus escolheria essa; que mais se aproxima das crendices e simpatias supersticiosas, e que lembra os sortilégios e encantamentos praticados por feiticeiros, bruxos e encantadores.

Certamente haverá aqui relações com os serafins: as serpentes incandescentes ou abrasadoras, mencionadas em Isaías 6. Pode ainda ter alguma ligação com o terrível basilisco, um tipo de serpente mitológica, tão peçonhenta, que era capaz de matar apenas com seu  hálito, ou com o seu olhar.

Ora, o método utilizado pelos antigos pensadores para interpretar as narrativas mitológicas era a alegoria. Assim sendo, arriscarei aqui um palpite: As serpentes são seres rastejantes, seu lugar é nas tocas (porões?) e no rés do chão; em contrapartida Deus manda Moisés colocar a serpente de bronze no alto. Uma pessoa picada por uma serpente olha imediatamente para baixo e cai por terra; em contrapartida Deus recomenda que a pessoa ferida levante a cabeça e olhe para cima. O veneno das serpentes infecta a carne; ora, nós hoje sabemos que a cura para isso seria um antídoto obtido a partir do veneno da própria serpente: o soro antiofídico. Antecipando-se à medicina moderna, para combater a serpente da morte, que rasteja para matar, Deus oferece a serpente da vida, que se ergue para salvar.

“Erguer” ou “levantar”, curiosamente, é o mesmo verbo empregado no Novo Testamento para descrever a crucificação e a ressurreição de Jesus: “assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna” (vs. 14-15); e  “Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei (lit.: ‘o erguerei’) […]. Quando, pois, Jesus ressuscitou [lit.: ‘foi erguido’] dentre os mortos, lembraram-se os seus discípulos de que ele dissera isto; e creram na Escritura e na palavra de Jesus”.

Para nos salvar da destruição, Deus nos desafia a erguer os olhos (a ressuscitar o olhar!) e encontrar na própria cruz, expressão máxima de rancor e ódio, o antídoto para o rancor e o ódio que envenenam nossas almas.

Reverendo Luiz Carlos Ramos

Preparado para ser pregado aos 15 de março de 2015, na Igreja Metodista em Pirassununga, 
por ocasião do Quarto Domingo na Quaresma (Ano B), © 2015 by Luiz Carlos Ramos
e é parte da prédica de mesmo título, proferida em 2009
na Faculdade de Teologia da Universidade Metodista
(clique aqui para ler a mensagem original na íntegra)

© 2009 by Luiz Carlos Ramos.

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