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T e x t o s & T e x t u r a s

O Velho Mandamento Novo

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Deixo-vos de herança um antigo mandamento que continua novinho em folha:
Que vocês se amem mutuamente de maneira incondicional,
da mesma maneira como eu amei você: incondicionalmente.
Esta é a evidência que comprovará que vocês são realmente discípulos meus:
se vocês viverem esse amor sem porquês, uns pelos outros.
(Jo 13.34-35)

Jesus, despedindo-se dos seus discípulos, a quem chamou na ocasião de “pequenas crianças” (em gr. “teknía”, 33), antevendo que lhe restava pouco tempo na companhia deles, considerou aquele o momento certo para apresentar-lhes o seu testamento, dispondo as cláusulas sobre sua herança e sobre sua vontade para depois da sua morte.

A herança que Jesus deixa às suas pequenas crianças é o mandamento do amor.

Conquanto o “Amor” não fosse novidade, Jesus se refere a ele como um “novo mandamento”. Em grego, duas são as palavras que se usa para significar “novo”: “néos” e “kainós”.  O primeiro se refere a algo de fabricação recente. O segundo, ao estado de conservação ou à quantidade de uso. Por exemplo, posso ter um livro novo, recém-lançado, isto é um livro “neós”. Ou ter um livro que fora impresso há muito, mesmo há séculos, mas que nunca havia sido folheado ou lido, ou mesmo um livro muito desgastado, mas cujo conteúdo continuasse atual e relevante — esse é um livro “kainós”. O mesmo para um sapato comprado há tempos, que não é mais “neós”, mas que conservamos novo (“kainós”), para usar em ocasiões muito especiais.

O mandamento do amor não é “neós”, mas é “kainós”. Não é invenção nova, ao contrário, é tão antigo quanto o próprio Deus. No entanto, continua novo no sentido de que ainda é muito pouco conhecido e praticado, e novo no sentido de que continua atualíssimo.

Esse é o grande presente de Jesus aos seus herdeiros: uma dessas raridades que, quanto mais antigas, mais valiosas se tornam.

Além da herança, o testamento expressa a vontade de Jesus para depois da sua morte: que as suas criancinhas vivam em amor, umas com as outras.

Na riqueza da língua grega, também há mais de uma palavra para denotar o amor, como bem se sabe, entre elas: “eros”, “filos” e “ágape”. O primeiro, “eros”, de onde vem a nossa palavra “erótico”, se usa para referir ao amor pelo que é belo; o segundo, “filós”, de onde vem a nossa palavra “filantropia”, indica o amor pelo que é bom; o último, “ágape”, é a forma mais sublime de todas, é o amor pelo amor.

Os dois primeiros são amor por causa de (por causa da beleza, ou por causa da bondade de alguém, por exemplo), mas o amor “ágape” é amor apesar de.

Esse é o amor que Jesus deixa em seu testamento para os seus queridos: o amor que ama independente das qualidades estéticas ou éticas da pessoa amada. Jesus não nos ama por causa de nada, mas apesar de tudo, até mesmo da falta de beleza e da falta de bondade.

E esta é a sua vontade para nós: Que nos amemos mútua e incondicionalmente, como ele nos amou.

Todos saberão que somos cristãos, isto é, herdeiros de Cristo, se formos capazes de viver esse amor sem porquês, uns pelos outros, todos os dias da nossa vida.

Reverendo Luiz Carlos Ramos
(Para o Quinto Domingo da Páscoa, Ano C, 2016)

Um comentário

  1. Muito bom ler o teu comentário, <Luiz, no início de um novo dia "novinho em folha" pra gente viver do jeito que o Senhor propõe. Grande abraço.

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