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T e x t o s & T e x t u r a s

Ofício de consolação e despedida

 

Luciano-Lima-6

 

 

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Luciano José de Lima
✰26/05/1978 – 05/06/2015✞ [break]

Saudação

D:   “A graça do Senhor Jesus Cristo, que venceu a morte,
e o amor de Deus, autor e consumador da vida,
e as consolações ternas e eternas do Espírito Santo
sejam com todos vós. Amém.” (cf. 2Co 13.14)

Nosso amor, admiração e respeito
pelo Rev. Luciano José de Lima nos reúne
—familiares, amigos/as, irmã/os na fé e na vida—,
neste momento de despedida e consolação mútua,
no mesmo espírito ecumênico
de comunhão na fé, na esperança e no amor.

  A paz seja contigo e em teu espírito!

Palavras de conforto e consolação

D:   O Luciano era um historiador. E foi um observador perspicaz da história, como ele, que se deu conta de que “os grandes impérios viram pó, os grandes homens, poemas” (atribuído ao filósofo, historiador e poeta Manoel Affonso de Mello, o Manoelzinho).

O Luciano que também era poeta, agora virou poema. E, neste tempo da saudade, resta-nos recorrer aos poemas sagrados em busca de consolação e alento. Selecionamos três deles. O primeiro é a prece angustiada do sofredor que enfrenta a dor com dignidade inabalável e celebra a vida com as forças que lhe restam.

“Ouve, Senhor, a minha súplica,
e cheguem a ti os meus clamores.
Não me ocultes o teu rosto no dia da minha angústia;
inclina-me os teus ouvidos;
no dia em que eu clamar,
ouve-me, Senhor.
Porque os meus dias como fumaça se desvanecem,
e os meus ossos ardem como em fornalha
Ferido como a erva, secou-se o meu coração;
até me esqueço de comer o meu pão.
Os meus ossos já se apegam à pele,
por causa do meu dolorido gemer.
Sou como um pelicano no deserto,
como a coruja das ruínas.
Não durmo,
e sou como o passarinho solitário nos telhados. […]
Por pão tenho comido cinza,
e misturado com lágrimas a minha bebida. […]
Ficará isto registrado para a geração futura,
e um povo, que há de ser criado,
louvará ao Senhor;
que o Senhor do alto do seu santuário
desde os céus, baixou vistas à terra,
para ouvir o gemido dos cativos,
e libertar os condenados à morte.” (Sl 102.1-21)

   Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Solo Dios basta.

D:   O segundo é uma canção peregrina que retrata a jornada daquele que atravessa áridos desertos e escala escarpados desfiladeiros, rumo às misericórdias de Javé:

“Das profundezas clamo a ti, SENHOR.
Escuta, Senhor, a minha voz;
estejam alertas os teus ouvidos às minhas súplicas.
Se observares, SENHOR, iniquidades,
quem, Senhor, subsistirá?
Contigo, porém, está o perdão, para que te temam.
Aguardo o SENHOR,
a minha alma o aguarda;
eu espero na sua palavra.
A minha alma anseia pelo Senhor
mais do que os guardas pelo romper da manhã.
Mais do que os guardas pelo romper da manhã,
espere Israel no SENHOR,
pois no SENHOR há misericórdia;
nele, copiosa redenção.
É ele quem redime a Israel de todas as suas iniquidades.”  (Sl 130)

   Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Solo Dios basta.

D:   No terceiro, o Poeta de Nazaré traça, com linhas suaves, a doce fisionomia do bem-aventurado, cujo perfil coincide com o rosto sereno do nosso querido Luciano:

“Bem-aventurados os que têm saudade de Deus;
o Reino dos Céus lhes pertence.
Bem-aventurados os tristes;
consolo lhes será dado.
Bem-aventurados os de espírito manso;
a terra lhes será dada por posse.
Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça;
eles serão satisfeitos.
Bem aventurados aqueles que mostram misericórdia;
porque eles receberão misericórdia.
Bem-aventurados aqueles cujos corações são puros;
eles verão a Deus.
Bem-aventurados os que lutam pela paz;
Deus os chamará de filhos.
Bem-aventurados aqueles que têm sofrido
perseguição por causa da justiça;
o Reino dos Céus lhes pertence.” (Mt 5.3-11, ver. de Rubem Alves)

   Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Solo Dios basta.

Homenagens Póstumas
Bispo José Carlos Peres:

Evandro César:

Elegia de agradecimento e saudade

É, meu caro amigo Luciano Lima, agora tu descansaste de tua jornada! Faltam-me palavras nesta hora. Justamente para falar de ti, que tanto as conhecia e dominava… Para me ajudar nessa difícil tarefa, retomo as reflexões feitas pela amiga Ana Eloísa, quando cita as palavras proferidas por ocasião do falecimento do filósofo e escritor Albert Camus:

“Será preciso que nossa pobre carne se habitue à ideia de nunca mais ver aquele que era o melhor dentre os nossos”.

Foste o melhor de nossa geração!

Fizeste da Poesia tua Companheira, da Profecia, tua Aliada e da Solidariedade, tua Prática! Nunca, em nenhum momento, te dobraste ante os Jogos de Poder e os Oportunismos de Ocasião. Agiste como um verdadeiro cavalheiro, reto e senhor de si, em todas as ocasiões e com todas as pessoas! Fizeste muito mais do que devias! Quantas caminhadas? Quantas viagens de trem, metrô, ônibus… Quanto esforço? Quantas lutas?

Viveste o Sonho de Jesus até o último instante! Utopia de viver e comungar um grande e belo banquete com todos os irmãos e irmãs indistintamente!

O Mundo perde um Poeta que sabia fazer magia com as palavras e conseguia, não se sabe como, iluminar conceitos, ideias e sonhos.

A Igreja perde um gênio que ela não soube acolher, um Profeta que ela não soube reconhecer.

Choramos e sentimos tua partida, mas teu testemunho de vida, tua vivência ecumênica e tua coerência existencial, serão sempre louvados por todos nós. Agora, amigo, te tornaste naquilo de que tanto falavas: Poesia.

Viraste Poesia em estado bruto!

Metáfora de amizade, sorriso, saber e partilha!

Não dará para falar de teu nome sem nos lembrarmos de tua intensa gargalhada diante de uma boa piada engraçada, ou de tua elucidação ante algum conceito ou texto complicado.

Nosso coração se alegra e agradece por termos caminhado contigo.

Quanto a mim, só tenho que agradecer pelas caminhadas, pelos encontros, pelas risadas, pelas partilhas e pela amizade nesses mais de 14 anos de convivência. Descansa, meu amigo, e obrigado por tua Vida entre nós! Tua amizade e poesia nos fizeram pessoas melhores!

Irismã Oliveira:

Quero agradecer à Deus, por ter cuidado de mim e do Luciano, e eu sei que continua nos amando e cuidando com carinho!

Agradeço a tod@s, pelas orações, preces, rezas, vibrações, pensamentos positivos, recados, e-mails, telefonemas, sinais de fumaça, zapzap… Obrigada pelo carinho e amor, força e apoio!

Tenho certeza que o Lu gostaria que eu repetisse hoje aqui este verso de que ele tanto gostava:

“No final do caminho me dirão: E tu, viveste? Amaste?
E eu, sem dizer nada, abrirei meu coração cheio de nomes.”

(D. Pedro Casaldáliga)

O Luciano é e será sempre o amor da minha vida.

Luiz Carlos Ramos:

Luciano tinha sempre muito bom humor. Dentre os filmes de que mais gostava estavam os do Harry Potter. Num dos episódios, há a cena de uma aula na escola de magia em Hogwarts –escola que o Luciano também “frequentou”– que ensinava como enfrentar o medo e derrotar o terrível Bicho Papão. O segredo era o seguinte: quando ele se apresentasse poderoso e amedrontador na nossa frente, bastava imaginá-lo usando algo engraçado, como, por exemplo, as ceroulas de bolinha da nossa avó. O bom humor e o riso eram suficientes para derrotar o medo.

O Luciano foi vítima, muitas vezes, de injustiças: sofreu bullying, impiedades, perseguição, desrespeito, discriminação, intolerância… Mas nunca se acovardou. Acho que, muitas vezes, ele saía por aí vestindo ceroulas de bolinhas em muita gente.

O Luciano não teve medo do poder da família,
não teve medo do poder eclesiástico,
não teve medo do poder político nem do econômico,
não teve medo do medo,
e, por fim, não teve medo da morte.

Nunca se acovardou, enfrentando tudo com muita dignidade, sempre um gentleman.

Estou certo de que aqui todos nós teríamos uma palavra para homenageá-lo, uma palavra que expressasse a nossa convivência com o Luciano. Que palavra sintetizaria sua experiência com o Luciano?

Comunidade (expressões espontâneas):

Inteligente, genial, estudioso, gentil, educado, leal, corajoso, destemido, solidário, ecumênico, comprometido, talentoso, poeta, amigo, companheiro, amoroso, pequeno príncipe, gedi, corajoso, cavalheiro…

Oração

Eterno Deus, tu és o autor de toda vida.
Nós te louvamos porque pudemos compartilhar
nossa vida com o Luciano,
e nos recordamos com gratidão
de todas as alegrias que deste a ele
e àqueles e àquelas que o conheceram e o amaram.
Agora, nós te rendemos graças porque para o Luciano,
toda dor e sofrimento chegaram ao fim,
e a própria morte foi vencida.

Ajuda-nos a entregá-lo aos teus cuidados,
na confiança de que toda existência
encontra a sua plenitude em ti
e na alegria do teu reino eterno.

Nós intercedemos por aqueles e aquelas
que mais sentirão saudades do Luciano
porque o amaram mais;
especialmente sua esposa Iris,
e todos os membros de sua família.
Permita que, depositando todo fardo em ti,
possam conhecer a consolação do teu amor.

Senhor, renova dentro em nós um espírito reto e inabalável.
Conduze-nos com todo o teu povo ao reino de Paz e Justiça,
onde enxugarás dos olhos toda lágrima,
e a morte já não mais existirá.

Ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo,
seja a glória agora e por toda a eternidade. Amém.

. . .

D:   O nome “Luciano” significa o que tem luz, iluminado, o que ilumina. Que sua memória ilumine nosso caminhar e nos ajude a também nós desenvolvermos as mesmas virtudes que marcaram a sua vida entre nós. E, assim, podemos cantar com fé e esperança:

♫ Cântico de Alento: Gozo em Jesus [HE 366]

Ouvi o Salvador dizer:
“Vem descansar em mim
E confiante receber
Conforto e paz sem fim”.
Fui a Jesus e lhe entreguei
Meu triste coração;
Abrigo e paz e gozo achei;
Achei consolação.

Ouvi o Salvador dizer:
“De graça eu sempre dou
As águas vivas; vem beber;
Da vida a Fonte eu sou”.
Fui a Jesus e me prostrei;
Da Fonte enfim bebi;
Jamais a sede sentirei,
Estando sempre ali.

Ouvi o Salvador dizer:
“Do mundo eu sou a Luz;
Oh! vem a mim, pois quero ser
Teu guia desde a cruz”.
Fui a Jesus, e nele achei
O sol que brilha em mim;
E nessa luz eu andarei
Até da vida o fim.

Pai nosso… [de mãos dadas]

Bênção [do Rev. Luciano José de Lima †]

“Que o amor que nos abraçou em fraternuras
guie sempre nossas cheganças;
Que o testemunho da justiça
esteja aceso em nossa lembrança;
Que toda adversidade conheça um porém,
esperança de possível viração;
Que idos@s, jovens e crianças
celebrem no abraço-ciranda uma grande festança;
Que o compromisso com a Terra ilumine nosso céu,
horizonte de paz em nossas andanças…”

Abraço de consolação [em silêncio]

* * *

(No Crematório)

Despedida

D:   Agora, nós vamos nos despedir
do nosso irmão Luciano,
confiando-o às ternas misericórdias de Deus,
nosso Criador e Redentor.

Oremos.

Gracioso Deus,
por teu poder nos deste vida,
e em teu amor tu nos dás nova vida em Cristo Jesus.

Nós entregamos o Luciano aos teus cuidados,
pela fé em Jesus Cristo, teu Filho, Nosso Senhor,
que morreu e ressuscitou para nos salvar;
e nos trouxe a alegria da ressurreição
e a glória do teu reino eterno.

Concede, Senhor, o Espírito de Consolação,
a nós que choramos. Amém.

Entrega

D:   Nós, agora, entregamos seu corpo para ser cremado
— cinza à cinza; pó ao pó —
na esperança da ressurreição para a vida eterna
por nosso Senhor Jesus Cristo,
que morreu e foi sepultado,
mas ressurgiu dos mortos
por amor de nós,
e agora vive e reina para sempre. Amém.

Bênção

D:   “A paz de Deus,
que excede todo o entendimento,
guarde os vossos corações
e as vossas mentes
em Cristo Jesus.

E que a graça do Senhor Jesus Cristo,
e o amor de Deus,
e a comunhão do Espírito Santo
sejam com todos vós,
agora e para sempre.
Amém.” (Fp 4.7; 2Co 13.13)

Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Nada te turbe, nada te espanta
Quien a Dios tiene nada le falta!
Solo Dios basta.

. . .

D:   Irmãs e irmãos, a vida segue o seu curso.
Há providências a tomar, pessoas a cuidar, trabalho a fazer
e Jesus nos prometeu que não nos deixará sós:

“Eis que estou convosco todos os dias,
até a consumação dos séculos.” (Mt 28.20)

Portanto, sigam em paz, irmãos e irmãs,
na força da fé, no conforto da esperança,
e na prática do amor. Amém.

* * *

Liturgia preparada e presidida pelo Reverendo Luiz Carlos Ramos† e oficiado na Igreja Metodista da Mooca aos 6 de junho de 2015 juntamente com o Reverendo Marciano do Prado†)

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