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T e x t o s & T e x t u r a s

“Pão de luz”

Foto: Pão de Luz by Luiz Carlos Ramos

Quando tenho fome,
são as palavras que me alimentam
e é delas que me sacio –
não do que significam,
mas do silêncio que elas fazem.

A lua é um “pão de luz”* a alimentar a noite.
A noite é o colo do crepúsculo.
O crepúsculo é o anfitrião da manhã.
A manhã é a morte do medo.
O medo é a moeda da moda.
A moda é o modo do mundo.
O mundo é um verso: uni-verso.
O universo é um pano preto salpicado de leite.
O leite é o deleite materno no leito da vida.
A vida é ávida da dádiva havida.

Quando tenho fome
como as palavras.

Quando tenho fome
não quero a lua, mas pão de luz;
não quero a noite, mas crepúsculo;
não quero o medo, mas alvorada;
não a moda, nem o mundo;
só um verso, o uni-verso.

Quando tenho fome
como pão com os ouvidos,
ouço tudo com os olhos,
cheiro muito com os dedos,
saboreio o recheio cheio de vida.

Luiz Carlos Ramos
(4 de abril de 2002)

* A expressão “pão de luz” para designar a lua é de José Saramago, em seu impagável “O evangelho segundo Jesus Cristo”

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