A natura, a cultura e a fazedura
| Apontamentos para a roda de conversa do NFG-USF — 24/08/24
Luiz Carlos Ramos
Costumava pensar que os principais problemas ambientais eram a perda de biodiversidade, o colapso dos ecossistemas e as alterações climáticas. Achei que trinta anos de boa ciência poderiam resolver esses problemas. Eu estava errado. Os principais problemas ambientais são o egoísmo, a ganância e a apatia, e para lidar com estes precisamos de uma transformação cultural e espiritual. E nós, [inclusive os] cientistas, não sabemos como fazer isso. (Guss Peth, Presidente Do Conselho De Qualidade Ambiental sob o Presidente Jimmy Carter, apud. RICHTER, 2020, p. 106)
A citação menciona três problemas ambientais fundamentais: egoísmo, ganância e apatia. E também diz que, para enfrentá-los, é necessária uma transformação cultural e espiritual. No entanto, mesmo os cientistas reconhecem que não sabem como fazer essa mudança cultural e espiritual.
Para encontrarmos essa resposta, precisamos da colaboração de todos:
Precisamos das Ciências Exatas e da Terra, das Ciências Biológicas, da Engenharia / Tecnologia, das Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, das Ciências Sociais, [das Ciências Humanas, das Ciências da Religião,] da Linguística, das Letras e, é claro, precisamos mais do que nunca das Artes, porque, segundo Dostoievsky, a Beleza nos salvará.
Em suma, é preciso fazermos uma aliança entre as ciências do corpo e as ciências do espírito.
Uma “estória” sobre lagartixas e dinossauros
Permitam-me contar uma historinha inspirada na lucidez do saudoso mestre, poeta, profeta, filósofo, psicanalista Rubem Alves.
Lagartixa
Era uma vez uma lagartixa muito faminta que tinha um apetite incomum. Ela comia tudo que podia e até o que não podia. Comia até a comida das outras lagartixas. Por causa disso ela foi ficando cada vez maior. E viu que isso lhe dava vantagens sobre as outras lagartixas. Então resolveu adotar o slogan: Quanto maior, melhor!
Lagarto
Um dia, a lagartixa se deu conta de que tinha se transformada num robusto lagarto. Esse lagarto também era voraz e comia tudo que podia e o que não podia. Por causa disso o lagarto foi ficando cada vez maior. E pensava consigo mesmo: Quanto maior, melhor!
Jacaré
Cresceu tanto que, um dia, o lagarto se deu conta de tinha se transformado num corpulento jacaré. Esse jacaré era insaciável e comia tudo que podia e não podia. Por causa disso o jacaré foi ficando cada vez maior. E pensava consigo mesmo: Quanto maior, melhor!
Dinossauro
Num outro dia, o jacaré se deu conta de que tinha se transformado num descomunal, imenso e terrível dinossauro. Esse dinossauro comia tudo que podia e não podia. Como era muito grande, ele conseguiu comer todas as plantas, as árvores, e comeu também todos os animais que havia na terra… Até que que não sobrou nada. O resultado foi óbvio. Sem ter mais o que comer, vocês imaginam o que aconteceu com o dinossauro: ele foi extinto.
O maior predador da terra
Na verdade, essa história não é sobre lagartixas e dinossauros, mas sobre o maior de todos os predadores do planeta: o ser humano.
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Justiça socioambiental e crise climática
Por essa razão enfatizo aqui nosso compromisso com o cuidado da nossa casa comum, porque a natureza está sofrendo, a sociedade está sofrendo, especialmente as parcelas mais empobrecidas e vulneráveis.
Estamos atravessando uma crise climática sem precedentes, é que este foi o inverno mais quente dos últimos 200 mil anos.
E os causadores desse aquecimento global têm nome e sobrenome: chama-se Homo Sapiens.
Esperança: “menos é mais”
Contudo como educadores e educadoras, como diria Paulo Freire, temos que reafirmar a esperança: “temos que esperançar”.
Temos uma chance se tiver a coragem de substituir a falácia do “quanto maior melhor”, pela ciência e consciência do “menos é mais”, e adotarmos um estilo de vida menos consumista e predatório, e optarmos por uma maneira de ser mais colaborativa e respeitosa para com a natureza e a humanidade.
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Uma história fantástica e completa! Qualquer comentário seria supérfluo e contraproducente!