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T e x t o s & T e x t u r a s

“Colha o Dia”

Torre da Igreja Metodista em Pirassununga

Há 6 anos tenho afirmado, por onde vou, que a Igreja Metodista em Pirassununga é a melhor igreja do mundo. Isso porque ela é a igreja para a qual Deus me trouxe. Foi aqui que a voz mansa do Bom Pastor ressoou no meu coração: Tu me amas? Então apascenta os meus cordeirinhos.

Nesse tempo, juntamente com os membros dos ministérios, caminhamos juntos, batizamos nossas crianças, celebramos a união dos que se amam, fizemos companhia para os que se sentiam sós, visitamos os enfermos, socorremos os necessitados, sepultamos amorosamente os nossos mortos, consolamos os enlutados… Fizemos, enfim, o que as Escrituras recomendam: choramos com os que choram e nos alegramos com os que se alegram (cf. Rm 12.15).

Desde que chegamos, não deixamos de dizer que o Amor é o único mandamento. Que amar é muito mais do que gostar: gostar a gente gosta por causa de, amar a gente ama apesar de.

Também insistimos que a Igreja, para ser Igreja de verdade, tem que ser a casa de todos, porque é a casa de Deus. A Igreja é o único lugar onde as diferenças são respeitadas e todos se sentem irmãos e irmãs, filhos e filhas de Deus: o bebê e o ancião; o iletrado e o erudito; o pobre e o abastado; aqui se encontra a família da fé que deixa de lado suas diferenças ideológicas, depõem seus preconceitos… Repeti inúmeras vezes que “ou a igreja é de todos ou não é igreja”.

Nestes 6 anos, tentei até o último momento, nem sempre com sucesso, forjar aqui uma igreja de corações abertos, mentes abertas e braços abertos. Corações abertos para uma relação afetuosa e fraterna; mentes abertas para podermos honestamente compreender as razões e respeitar os mistérios —só as mentes abertas são verdadeiramente honestas; braços abertos para podermos superar todas as barreiras e acolhermo-nos mutuamente como Cristo nos acolheu.

Mas as mesmas Escrituras também nos ensinam que há tempo para todo propósito de Deus: “Há tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar” (Ec 3.5).

Também o nosso patrono, John Wesley, chegou a esse ponto. Um dia ele disse: Esta não é mais a minha paróquia, porque a partir de hoje o mundo será a minha paróquia. 

Agora abro o meu coração, a minha mente e os meus braços a um novo desafio: vivenciar uma igreja sem portas e sem paredes. Nela só deverá existir horizontes. Nosso templo serão o Sol, a Lua e as Estrelas… porque, a partir de agora, sem querer fazer desfeita a John Wesley, o Universo é a minha paróquia.

Levaremos conosco as boas e gratas memórias desse tempo que pareceu ser uma vida inteira.

Conta-se de um costume comum entre os monges medievais: quando dois deles se encontravam, em lugar de dizer bom dia, ou boa tarde, um dizia: “Carpe diem”, que significa “Aproveite o dia”; ao que o outro respondia “Memento mori”, que quer dizer “Lembra-te que morrerás”. Esses antigos sábios tinham a consciência de que tudo é transitório, e sabiam que somente adquirindo essa consciência é que conseguimos viver mais intensamente.

Nas minhas aulas de Homilética, recomendo aos estudantes que não terminem as suas prédicas com palavras de terceiros, por ser esse um momento demasiado importante para que o pregador abra mão dele. Mas hoje vou quebrar minha própria regra e vou terminar com um poema de Walt Whitman, por entender que suas palavras são perfeitas para marcar o fim deste período, e o início de um novo tempo.

Carpe Diem 
(Walt Whitman)

Aproveita o dia!
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te,
que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias,
sim, podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Ela nos derruba, nos lastima, nos ensina,
nos converte em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua,
tu podes compor uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar,
porque nos sonho o nome é livre.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, foge.
Valoriza a beleza das coisas simples,
se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação,
mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda adiante.
Procura vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprende com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido!

Reverendo Luiz Carlos Ramos
29 Dez 2019

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