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T e x t o s & T e x t u r a s

Fé & festa

Luiz Carlos Ramos
(Escrito em outubro de 2005,
para as crianças do Projeto Sombra e Água Fresca)

A Festa da Libertação (Êxodo 15.20ss)

 

Era uma vez, no Egito antigo, um menino, filho de escravos que foi criado pela filha de um faraó. A filha do faraó chamou uma escrava para servir de babá. O que ela não sabia é que essa babá era de fato a própria mãe do menino.

Esse menino se chamava Moisés, e cresceu brincando nos ricos corredores do palácio da sua mãe adotiva. A vida lá era boa e sempre havia muitas festas. Porém, para seus irmãos escravos, a vida era dura e não havia tempo para festejar, pois tinham que trabalhar de sol a sol, na construção das pirâmides.

O menino foi crescendo, mas não conseguia ficar indiferente, sabendo que enquanto no palácio havia tanto luxo, lá fora havia um povo sofrido que não tinha um único dia de descanso na semana.

Quanto mais ele percebia como os escravos sofriam, mais ele se conscientizava da necessidade de mudar a ordem das coisas. Então, quando Moisés cresceu, tornou-se um líder que lutou pela libertação dos seus irmãos e irmãs da escravidão do Egito.

Depois de muita resistência e muita negociação, o povo conseguiu se organizar e, finalmente, aqueles escravos conquistaram a liberdade. Não foi nada fácil. Mesmo depois de sair do Egito, enfrentaram perseguições e ameaças. Mas o povo seguiu em frente, até alcançar a margem firme e segura da liberdade.

Pela primeira vez, em 400 anos, aquelas pessoas estavam livres da escravidão. Então, a primeira coisa que fizeram foi organizar uma grande festa. Alegres, fabricaram instrumentos, compuseram músicas e ensaiaram danças.

Nessa festa teve tudo que toda boa festa tem: música, dança e, principalmente, muita alegria.

(Sugestão de atividade: fabricar instrumentos – de percussão e outros – com sucata e terminar o encontro com música e dança)


A Festa do Amor (Atos 2.42-27)

Ágape

P’ra alguns, o sucesso de uma festa está na quantidade da comida e da bebida que é servida. Diz-se que uma festa está animada quando há muito salgadinho, docinho e refrigerante.

Mas houve uma época, há muitos e muitos anos, quando as pessoas da igreja ainda eram perseguidas, porque preferiam obedecer antes a Deus que às autoridades cruéis e injustas. Naquela época, o povo era castigado com violência, e a maior parte da sua produção era arrebatada pela ambição do Estado, que cobrava taxa de tudo e para tudo.

Por isso, não sobrava quase nada para o povo que trabalhava no campo e nas vilas. A maioria das pessoas era mesmo muito pobre. Apesar de tudo, essas pessoas ainda eram muito alegres. Uma das maneiras que elas encontraram para enfrentar tanta injustiça era fazer festa, celebrando a amizade que havia entre elas.

Nas páginas da Bíblia, se podem ler muitas histórias de festas nas quais o povo comia e bebia, em belas e solidárias confraternizações. Mesmo nas ocasiões de grande escassez, quando não havia dinheiro p’ra banquetes, o povo não deixava de festejar. Eles costumavam se reunir “com singeleza de coração” para partilhar a única coisa que tinham p’ra repartir: pão, água e amizade.

A festa era sempre muito simples: o povo se encontrava, cada um trazia um pouco do que tinha, e as pessoas contavam as coisas boas que Deus estava fazendo na vida delas. Durante a festa, elas reafirmavam a amizade que tinham e animavam umas às outras a continuarem fiéis e obedientes a Deus. Não havia salgadinho ou docinhos, nem refrigerantes; mas nunca faltou pão, água e amizade.

(Sugestão de atividade: celebrar o ágape – pão, água e partilha de experiências)


A Festa da Vida (Cf. Lucas 14.16-23)

Uma vez Jesus contou para os seus discípulos uma história sobre a festa mais diferente que jamais aconteceu: Houve um homem que quis fazer uma ceia para os seus amigos. Preparou tudo do bom e do melhor. Comida e bebida com fartura. O homem estava feliz, e queria que seus amigos sentissem a mesma alegria que ele.

Quando chegou a hora da festa e tudo estava pronto, ansioso, o homem se preparou para receber de braços abertos àqueles de quem gostava. Para sua surpresa e decepção, não apareceu ninguém. O homem esperou e esperou, mas não chegou nenhum convidado.

Então ele pediu que um dos seus funcionários fosse à casa de alguns dos seus vizinhos para perguntar o que havia acontecido. Cada um deu a desculpa mais esfarrapada do mundo. No fundo eles não estavam nem aí com o anfitrião. A amizade, que o homem pensava que eles tinham por ele, não passava de fingimento.

Foi difícil para o homem ter de reconhecer que seus vizinhos não eram amigos de verdade. Foi então que ele resolveu fazer uma coisa muito diferente: mandou que seus funcionários saíssem, e convidassem para a sua festa todos os que encontrassem pelo caminho. Veio gente conhecida e gente desconhecida. Muitos eram moradores de rua, mendigos e desempregados.

Esses, sim, vieram e se alegraram com aquele homem. Aquele povo simples fez a festa: riram com ele, comeram com ele, brindaram com ele. E o homem aprendeu que a verdadeira festa da vida não está na aparência, mas na essência; não está no que as pessoas dizem, mas no que elas fazem.

Jesus terminou dizendo que o Reino dos Céus também é uma grande festa, preparada por Deus para aqueles e aquelas que são seus amigos e amigas de verdade. Nessa festa, entram não aqueles que falam de amor, mas aqueles que amam de fato e de verdade.

(Sugestão de atividade: fazer uma “festa” preparada pelas próprias crianças, e convidar amiguinhos e amiguinhas, que não são do projeto, para participar)


Nunca se esqueçam… desta festa memorável (Cf. Lucas 22.14-20)

Jesus sempre foi muito festeiro. Seu primeiro milagre foi numa festa. Sempre se reunia com as pessoas para comer com elas. A gente sabe que, até o fim de sua vida, a maneira preferida de Jesus para ensinar suas lições de solidariedade, justiça e paz, foram as refeições comunais.

Quando estamos à mesa, sempre temos a alegria de servir e o privilégio de sermos servidos. Quando queremos o feijão que está do outro lado, sempre há alguém disposto a alcançá-lo p’ra nós. E sempre que alguém nos pede para passar algo que está próximo de nós — o arroz, por exemplo — em meio a expressões de fraternidade, estendemos o braço na direção de quem espera com satisfação a nossa gentileza.

Os ensinamentos de Jesus, sobre a alegria de servir, fizeram com que alguns quisessem matá-lo. Isso porque ele queria que a vontade de Deus fosse feita na terra, assim como é feita no céu. Ora, se no céu não há injustiça, na terra também não deveria haver. Se no céu há plena paz, na terra também deveria haver. Só que tem gente que lucra mais com a injustiça do que com a justiça, com a guerra do que com a paz, que só quer ser servido, e nunca, servir. E esses começaram a planejar o assassinato de Jesus.

Jesus pressentia o que estava para acontecer, e por isso, durante a festa mais importante do seu tempo, a Páscoa, ele convidou todos os seus discípulos e todas as suas discípulas para um jantar muito especial. Quando estavam à mesa, como de costume, Jesus deu graças a Deus, tomou o pão, o partiu, e distribuiu, dizendo: isto é o meu corpo que dou por vocês. Comam todos. E nunca se esqueçam… Depois, Jesus encheu um cálice com vinho, e disse: bebam todos, esse cálice é o sinal da amizade verdadeira que há entre nós, pela qual estou disposto a derramar o meu sangue. Repitam sempre esse gesto, mesmo quando eu não estiver mais entre vocês, para que vocês nunca se esqueçam que ninguém tem maior amor do que este: o de dar a vida em favor dos seus amigos (Cf. João 15.13). Nunca, nunca se esqueçam disso.

(Convidar um/a clérigo/a e celebrar a eucaristia com as crianças)

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