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T e x t o s & T e x t u r a s

Vinde repousar um pouco

ovelhas

Marcos 6.30-34,53-56: Voltaram os apóstolos à presença de Jesus e lhe relataram tudo quanto haviam feito e ensinado. E ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham. Então, foram sós no barco para um lugar solitário. Muitos, porém, os viram partir e, reconhecendo-os, correram para lá, a pé, de todas as cidades, e chegaram antes deles. Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas.

“Acautelai-vos da azáfama da urbe”, advertia-nos do púlpito um antigo professor dos tempos de seminário. Nós, que o ouvíamos admirados, segurávamos o riso. Só depois, tendo consultado os dicionários, percebemos o que ele queria nos dizer: Não se deixem engolir pela grande pressa e ardor na execução de um serviço em meio à agitação da cidade.

Alguns domingos atrás, refletíamos sobre o reino de Deus que cresce enquanto dormimos. E na perícope de hoje ressurge o tema do descanso: “Vinde repousar um pouco.” Jesus convida seus discípulos para um merecido repouso no barco, enquanto o “reino” caminha apressado pela orla.

Os discípulos retornavam de uma missão, para a qual tinham sido enviados de dois a dois, e relatavam como tinham percorrido a circunvizinhança pregando (gr. kerýsso) ao povo o arrependimento (gr. metanoéo), expulsando os daimónia (etimologicamente, os distribuidores de fortuna) e oferecendo terapia (gr. therapeúo) aos enfermos. Durante esse trabalho, eram insistentemente assediados pela multidão, e de tal modo que sequer podiam comer sossegados. Compreende-se, portanto, que estivessem exaustos, tendo se dedicado tanto aos atormentados, aos dementes e aos adoentados (vd. 6.7-13).

Por essa razão, Jesus sabia que era imprescindível que interrompessem a correria do labor para desfrutar de um tempo de lazer, antes que os próprios discípulos ficassem, eles mesmos, atormentados, dementes e adoentados. Com isso, Jesus estava ensinando aos seus discípulos que o ritmo da vida cristã, com seus vaivéns, é um “constante passar da presença dos homens à presença de Deus, e sair continuamente da presença de Deus para a presença dos homens” (W. Barclay).

Só que a multidão é voraz, não dá trégua, corre pelas bordas. Não obstante, Jesus não se apressa, são seis quilômetros apenas até a outra margem, e não é preciso correr. Deixam que o vento os leve, no seu tempo, no seu ritmo. Podiam até ter cantado: “Deixa a vida me levar, vida leva eu…” A travessia foi lenta, sossegada, tanto é que a multidão chegou do outro lado antes deles, mesmo tendo caminhado dezesseis quilômetros pela orla.

Finalmente, Jesus e os discípulos chegam à outra margem. “Ao desembarcar, viu Jesus a grande multidão e compadeceu-se, porque eram como ovelhas que não têm pastor.” Eram ovelhas angustiadas, feridas, famintas, desamparadas. E a compaixão (capacidade de padecer com o outro), compensa o cansaço e completa as forças que faltam para que se consiga interromper os breves momentos de lazer e voltar ao labor… E assim, Jesus, que é o bom pastor, passou a ensinar-lhes muitas coisas.

Rev. Luiz Carlos Ramos
(Para o Oitavo Domingo do Tempo da Peregrinação
após Pentecostes, Ano B, 2015)

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