A criança no meio
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“Os discípulos não entendiam o que Jesus dizia […]. Jesus e os discípulos chegaram à cidade de Cafarnaum. Quando já estavam em casa, Jesus perguntou aos doze discípulos: — O que é que vocês estavam discutindo no caminho? Mas eles ficaram calados porque no caminho tinham discutido sobre qual deles era o mais importante (o maior). Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: — Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos. Aí tomando uma criancinha [paidíon = criança até 7 anos, diminutivo de pais = criança de 7 a 14 anos, vd. Jesus no Templo], a colocou no meio deles. E, abraçando-a, disse aos discípulos: Quem receber uma criancinha como esta, em meu nome, está recebendo a mim mesmo. E quem me receber não recebe somente a mim, mas recebe também aquele que me enviou.” (Mc 9.32-37, trad. nossa)
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Os discípulos não entendiam Jesus e seus anti-heróis. Não era para menos, afinal, para Jesus, tudo é às avessas. Os mais felizes (bem-aventurados) são os pobres, os que choram, os que têm fome, os que são perseguidos… Os mais desprezados pela sociedade são considerados por Jesus como sendo os mais importantes; os maiores pecadores são os mais amados… Os últimos são os primeiros e os menores são os maiores…
Há tanto tempo Jesus vinha tentando mostrar a lógica invertida do Reino de Deus, mas os discípulos tinham muita dificuldade para compreender seus ensinamentos.
Ora, dentre os excluídos, na sociedade do tempo de Jesus, os mais excluídos eram as criancinhas. Por isso é tão significativo o gesto de Jesus colocar a criança “no meio”. Jesus a tira da marginalidade e a coloca no centro da comunidade. Porque esse deve ser o lugar dela! Jesus não apenas disse isso, como fez isso: incluiu a criança, trouxe-a para o meio!
[P.S.: Em períodos eleitorais, todos ficam atentos às pesquisas indicativas de quem está na frente (quem é o maior), especialmente, na corrida presidencial. Mas não nos enganemos: O maior não é, necessariamente, o que que tem os maiores índices, mas é e será sempre o que está disposto e pronto para servir.]
Reverendo Luiz Carlos Ramos†
(Para o 18.º Domingo do Tempo da Peregrinação após Pentecostes, Ano B)