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T e x t o s & T e x t u r a s

Herodes são os que matam os menores da terra

Texto e alocução by Luiz Carlos Ramos – Música: Johan S. Bach
“Herr, unser Herrscher” from St. John Passion, BWV 245 No. 1
by Alain Aubin, Osvaldo Calo, Jovenal Olanda (Nana) Vasconcelos, Sami Ateba, Carisse Mouassi, Martin Ibessa, Yvon Kassa, Alain Aubin, Osvaldo Calo, Jovenal Olanda (Nana) Vasconcelos, Sami Ateba, Carisse Mouassi, Martin Ibessa, Yvon Kassa, Elugu Ayong Ensemble

«Depois que os magos foram embora, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José e disse:

— Levante-se, tome o menino e a sua mãe e fuja para o Egito. Fique por lá até que eu avise você; porque Herodes há de procurar o menino para matá-lo.

 Levantando-se José, tomou de noite o menino e a sua mãe e partiu para o Egito, onde ficou até a morte de Herodes. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo Senhor, por meio do profeta: “Do Egito chamei o meu Filho.”

Vendo-se iludido pelos magos, Herodes ficou muito furioso e mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme as informações que havia recebido dos magos a respeito do tempo em que a estrela havia aparecido. Então se cumpriu o que foi dito por meio do profeta Jeremias:

“Ouviu-se um clamor em Ramá,
pranto e grande lamento; 
era Raquel chorando por seus filhos
e inconsolável porque eles
já não existem.”»

Mateus 2.13-18 (NA17

O texto do Evangelho nos conta a respeito de um período dramático na vida da família sagrada, que ficou conhecido com nomes não menos dramáticos, tais como: “A fuga para o Egito”, e “O massacre dos inocentes”. 

José sonha 4 vezes. Poderíamos dizer que José é um sonhador. Mas não foram sonhos do tipo que os pregadores de autoajuda gostam. Não eram sonhos de ver, mas sonhos de ouvir. Em lugar de projetar imagens oníricas, o sonho fez soar palavras angustiantes. A Palavra de Deus nem sempre é caixinha de promessas, às vezes é desconcertantemente preocupante. Desconfio que José, quando acordou, tenha exclamado assustado: “Tive um pesadelo horrível!”

Para quem esperava um Messias poderoso é uma grande decepção saber que o primeiro ato da família sagrada é um ato de covardia. Fugiram para o Egito porque ficaram com medo de Herodes. Com o agravante de que esse ato de covardia é respaldado e orientado pelos anjos, mensageiros de Deus.

Ora, quem faz as estrelas brilhar, a virgem dar à luz, e envia anjos para cantar e revelar a glória divina, não teria uma solução para os Herodes da vida?

Herodes são todos os que matam os menores da nossa terra: são os que matam as crianças pretas e pobres, os que matam as crianças indígenas, os que arrancam as crianças dos braços das mães refugiadas, Herodes são os que matam o que resta de esperança em todos nós.

Com a fuga da família sagrada, Herodes pensa ter vencido. Mas… até os Herodes morrem. E quando os Herodes morrem, Jesus retorna para continuar sua obra de redenção.

Há momentos em que não há outra coisa a fazer a não ser o que José fez: “sonhar, estreitar junto de si a família, e pôr-se a caminho”. Aprendi, lendo um artigo publicado no Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, que os 3 verbos decisivos para cada família e cada indivíduo são: sonhar, cuidar e caminhar. 

Sonhar, porque o cristão não se conforma com o mundo tal como está, ele foi dotado de imaginação e criatividade para poder sonhar um outro mundo possível. 

Cuidar corajosamente, mesmo que para isso seja preciso fugir, parecer covarde, porque é preciso “cuidar das vidas com a própria vida” (Elias Canetti).

E caminhar, mesmo que essa pareça ser a direção errada. Deus libertou o povo da escravidão do Egito para conduzi-lo à Terra Prometida, mas agora conduz a família sagrada da Terra Prometida de volta para o Egito… De fato, “os caminhos de Deus são mais altos que os nossos caminhos, os pensamentos de Deus, mais altos que os nossos pensamentos” (Is 55.9). 

Como José e Maria, estreitando junto ao coração o menino Jesus, sim, aquela mesma frágil criança do Natal, sigamos caminhando por onde Deus nos conduzir, ainda que para o nosso senso de direção, esse pareça ser a direção errada. Fujamos dos Herodes sanguinários, os senhores da morte, até que o tempo oportuno se nos apresente e possamos retornar mansamente para possuirmos definitivamente a Terra Prometida deixando-a plena de vida, e vida em abundância.

Reverendo Luiz Carlos Ramos
Primeiro Domingo de Advento, Ano A
Último sermão pregado na IM-Pirassununga
2019

2 Comentários

  1. Gratidão pela homilia, tive o privilégio de vê-lo pregar na sua despedida em Pirassununga, você também é sonhador, sonha o sonho de Jesus: para que todos tenham vida em abundância. Feliz 2020.

  2. Texto precioso , pedagógico e cheio de esperança à quem sonha, cuida e caminha em estradas indicadas por Deus!

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