Liturgia de cordel
(sextilhas)
Luiz Calos Ramos
Advento
Estou vendo nestas páginas
Como tudo começou,
Em silêncio e no escuro,
Onde a vida se formou:
Do nada se fez tudo
Por um gesto de amor.
Ah, que música divina!
Tanta luz, quanta beleza!
Quando Deus se fez ouvir,
Se formou a natureza.
Só que algo aconteceu…
Cresceu mato, dor, tristeza.
Desde então ninguém descansa:
Tanta luta, dor, maldade…
Mesmo assim não falta gente
Que deseja com saudade
Que o Éden refloresça
E encha o mundo de bondade.
Um clarão brilhou no céu:
uma nesga de esperança…
vagalumes rebrilhando:
Paz na terra, em toda estância!
Já se ouve, está chegando:
A salvação é uma criança!
Advento inusitado:
Nova aurora alvoreceu.
No curral se ouve um choro…
O impensável aconteceu:
A promessa se fez corpo!
Nosso Deus recém-nasceu!
Páscoa
A vida é dura para todos,
Disso temos a certeza,
Mas podemos aprender
As lições da natureza:
Com esperança, fé e amor,
Tudo enfrenta com firmeza.
Veja a pobre da lagarta,
Não tem pingo de esplendor;
Mas o tempo tudo cura,
Rasga a casca do temor;
Quando vê está tudo novo,
De repente voou flor.
E o milho da pipoca,
Pedra dura quando grão,
Com um pouco de paciência,
Pela arte do fogão,
Dá um salto, se transforma,
Vira floco de algodão.
Veja o dia, veja a noite:
Tanta treva e escuridão,
Num instante tudo é morte;
Mas pra tudo há solução:
Quando menos se espera,
Vem o sol, ressurreição.
Pentecostes
Este Livro diz que a gente,
Se quiser viver pra sempre,
Deve amar a liberdade,
Respeitar o diferente.
Diz que tudo é pura graça
Porque a vida é um presente.
O Espírito do vento.
Sopra livre, sopra forte.
Ninguém sabe de onde vem,
Se do sul ou se do norte;
Só que quando ele passa
Muda a sina, muda a sorte.
Veja aqui, mire acolá,
São sinais de um novo tempo.
É disso que fala o Livro,
Desse novo nascimento:
Quem é velho fica moço
Pelo Espírito do vento.
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