Eis aí tua mãe
Vendo Jesus sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse:
Mulher, eis aí teu filho.
Depois, disse ao discípulo:
Eis aí tua mãe.
Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa.
(João 19.26-27)
Cuidado maternal e cuidado filial
As palavras em epígrafe foram ditas por Jesus na cruz. São, geralmente, identificadas como “a terceira palavra da cruz”. O contexto é terrível: terror e tortura, julgamento injusto e condenação sumária à pena de morte por crucifixão, o filho agonizante diante da mãe…
Nada seria pior para uma mãe do que ver o filho nessas circunstâncias. E lá está ela junto ao filho, até o último momento. O filho, em agonia, reúne forças para preocupar-se igualmente por sua mãe. Sabe que toda mãe precisa do filho.
Junto a ela está um menino, a quem Jesus amava profundamente. Vendo a ambos, Jesus incumbe Maria da responsabilidade de adotá-lo. Ainda que perca o filho nascido das suas entranhas, ela nunca deixará de ser mãe. Sempre haverá crianças por perto necessitadas de cuidados maternos. Esse era o caso do menino João: ele precisava de uma mãe… e Maria precisava de um filho. Por isso, Jesus lhes diz: “Mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe.”
Os filhos pequenos precisam tanto do cuidado materno quanto as mães precisarão mais tarde dos cuidados filiais. É natural que chegue o tempo em que os filhos se tornem mães das suas mães. Serão eles que, então, haverão de tomá-las nos braços, afagá-las, confortá-las, consolá-las, alimentá-las, medicá-las… Por isso “o discípulo a tomou para casa”.
Filho de sangue e filho do coração
Para Maria, Jesus fora o filho das suas entranhas, e agora, João tornava-se o seu filho do coração. Para um e para outro, Maria foi mãe. Nem João ficaria órfão, nem ela seria abandonada.
Recentemente fomos incomodados mais uma vez por notícias sobre mães que abandonam seus filhos deixando-os em lixeiras de hospitais e nas sarjetas… Casos como esses viram manchete e são tratados com estardalhaço pela imprensa. Já os casos de filhos que abandonam suas mães, nas lixeiras de sarjetas e asilos, raramente viram notícia.
Segundo dados do Unicef, estima-se que haja no Brasil cerca de 4 milhões de órfãos. Mas quem poderá informar o número das mães abandonadas?
Talvez seja tempo de superarmos a ideia de que “mãe só tem uma”. Desta palavra da cruz, aprendemos que, para enfrentarmos a crise do abandono, na nossa sociedade, é preciso que todos assumamos nossa maternidade coletiva e desempenhemos, corajosamente, funções maternais. Não só como Santa Madre Igreja, mas como Santa Madre Sociedade, Santa Madre Estado, Santa Madre Escola, Santa Madre Mídia… Sim, somos todos mães! Vivendo assim, talvez, num dia próximo, não haja mais crianças órfãs e mães abandonadas.
Aprendamos com o nosso Deus materno: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti” (Isaías 49.15)
Luiz Carlos Ramos
(Dia das mães, 2011)
Oi querido Luiz,
O contraponto entre entre as mães abondonadas e as criancas abandondonadas traz novamente a discussao sobre a maternidade obrigada-imposta e o consequente difícil exercício da maternagem em contextos que o não querer ser mãe é visto como afronta às espiritualidades que tratam a maternidade como imposição religiosa.
É um debate profundo e sensível.
Oi Luiz Carlos, adorei essa reflexão e estou compartilhando com outras pessoas… Concordo com sua opinião plenamente! abç