O metodismo e a Reforma
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A Reforma de Lutero se deu século XVI (31 de outubro de 1517) enquanto o Metodismo só surgiria no século XVIII, duzentos anos depois. Portanto, não podemos incluir a Igreja Metodista como parte direta do movimento da Reforma.
Contudo, Wesley pretendia “reformar a nação, particularmente a igreja, e espalhar Santidade Bíblica em toda nação”.
Ora, o que o povo metodista pretendia, não era romper com a igreja, mas santificá-la e restaurá-la segundo as raízes evangélicas. Esse ideal resultou em significativas e profundas “reformas” no cristianismo inglês.
Enquanto a igreja de então havia se convertido em um domínio a serviço da elite, o metodismo queria devolver a igreja e o Evangelho para o povo, que era composto na sua maioria de gente simples, pobre, mulheres e crianças.
Por isso adotou um estilo de pregação direto, e passou a organizar o povo em pequenas cooperativas de ajuda mútua e de apoio espiritual.
A tensão entre anglo-catolicismo e protestantismo que fazia a Igreja da Inglaterra se debater, deu ensejo à síntese metodista em relação à fé-e-obras.
John Wesley formulou sua teologia a respeito da tensão dialética entre fé e obras apropriando-se especialmente das discussões ocorridas em meados dos séculos XI e XII sobre misericordiae et pietatis (misericórdia e piedade): o cristão é aquele que pratica incansavelmente obras de misericórdia (amor ao próximo) e atos de piedade (amor a Deus).
Naturalmente Wesley não estava advogando a salvação pelas obras, mas reafirmando o óbvio, como se lê nas Escrituras, que o amor a Deus está condicionado ao amor pelo próximo:
Se alguém disser: “Amo a Deus”, mas odiar o seu irmão, esse é mentiroso. Pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. (1Jo 4.20)
Em termos de Salvação, Wesley reafirmou a justificação pela fé (isto é, não somos justos em nós mesmos, mas justificados por Deus em Cristo), e enfatizou fortemente o processo de santificação contínua e permanente do povo de Deus.
Nesse processo de santificação continuada, ou a busca pela perfeição cristã, o cristãos deve priorizar especialmente a participação constante nos Meios de Graça:
Os principais desses meios são a oração, seja secreta ou juntamente com a congregação; o estudo das Escrituras (que compreende a leitura, audição e meditação delas); e a participação da Ceia do Senhor, comendo o pão e bebendo o vinho em memória de Cristo: cremos que tais meios foram ordenados por Deus, como canais ordinários pelos quais Ele comunica sua graça à alma dos homens. (WESLEY, Sermão 16: Os meios de Graça)
Os metodistas também tiveram um papel muito importante na quebra do paradigma do templo. A prática corrente era considerar que a pregação do Evangelho só poderia ser realizada dentro de um templo consagrado. Para os metodistas, contudo, qualquer lugar poderia ser erigido como púlpito ou plataforma para a pregação do Evangelho, mesmo que ao ar livre: a praça, a porta de uma fábrica ou mina de carvão, um cemitério, o quintal de uma casa simples, um prado…
Vários outros paradigmas e tabus eclesiásticos foram quebrados pelos metodistas, entre eles, merece destaque a pregação laica e, especialmente, a realizada por mulheres.
Não devemos nos esquecer do importante deslocamento quanto ao público alvo da pregação metodista: antes, as prédicas eram pensadas para servir à nobreza e às classes dominantes, mas agora elas se destinavam a resgatar as crianças, os condenados à morte, os operários, os trabalhadores das minas, os pobres, os indigentes…
Também na hinologia, os metodistas promoveram profundas reformas. Além de adotarem o cântico congregacional, abriram as possibilidades para o cântico evangelístico e até mesmo para ao cântico autoral, isto é, aqueles cujo conteúdo contem o testemunho de fé de um indivíduo ou de uma comunidade.
A educação também nunca mais foi a mesma. A alfabetização de crianças pobres nas Escolas dominicais, por exemplo, quebrou o tabu do “domingo”, rendeu muita recriminação por parte dos puritanos de então.
A atuação na promoção dos direitos dos encarcerados, não só levando a eles a pregação da Palavra, mas zelando por sua saúde, higienizando as celas, acompanhando os condenados à morte até o momento da sua execução, para que não perdessem de vista a salvação e o amor de Deus… tudo isso revolucionou, mais que reformou, o sistema penitenciário inglês.
A capacidade tipicamente metodista de organizar o povo também se refletiu na classe operária. Sabe-se que o primeiro sindicado de trabalhadores da Inglaterra foi fruto do trabalho de um metodista.
A história está se encarregando de mostrar quão profundas e grande reformas John Wesley e o povo metodista realizaram até o presente. Podemos afirmar, portanto, sem hesitar, que Wesley foi um Reformador, sim, um dos maiores.
Luiz Carlos Ramos
nos dá a oportunidade em conhecermos a história…Parabéns Luiz Ramos!!!