Umbigo de criança
(A propósito do dia Dia das Mães)
Luiz Carlos Ramos
(Para D. Déa, mãe desta e de muitas outras idéias
E para D. Odete Ramos, mãe como a desta história)
João 6.1-13: “1 Depois disto partiu Jesus para o outro lado do mar da Galiléia, também chamado de Tiberíades. 2 E seguia-o uma grande multidão, porque via os sinais que operava sobre os enfermos. 3 Subiu, pois, Jesus ao monte e sentou-se ali com seus discípulos. 4 Ora, a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima. 5 Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem? 6 Mas dizia isto para o experimentar; pois ele bem sabia o que ia fazer. 7 Respondeu-lhe Filipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco. 8 Ao que lhe disse um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: 9 Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos? 10 Disse Jesus: Fazei reclinar-se o povo. Ora, naquele lugar havia muita relva. Reclinaram-se aí, pois, os homens em número de quase cinco mil. 11 Jesus, então, tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos que estavam reclinados; e de igual modo os peixes, quanto eles queriam. 12 E quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca. 13 Recolheram-nos, pois, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido.”
Os mais críticos devem estar perguntando: — O que esse texto tem a ver com mãe? Onde está a mãe na história? Pois eu vou dizer onde ela está: no umbigo do menino que ofereceu os cinco pães e os dois peixes para alimentar a multidão. Aprendi com meu amigo José Lima Jr. que o umbigo é uma marca materna que nos acompanha a vida toda.
Sim, o umbigo é a prova de que todos nós temos, ou tivemos, mãe. Se aquele menino tinha umbigo, então ele tinha mãe. Observando bem, podemos perceber que a mãe o menino da história da “multiplicação dos pães” deixou nele outras marcas além da cicatriz umbilical.
Antes de prosseguirmos, gostaria de fazer um comentário exegético muito importante. A palavra “rapaz” (v. 9), no original grego é paidarion, que significa “pequena criança”, e pode se referir a um menino ou a uma menina. Se quisermos, podemos ler essa história considerando que uma de suas principais personagens era, então, uma menina.
Menina ou menino, a criança carrega em si as marcas da influência materna. Procuremos identificar algumas dessas marcas.
Primeira marca: formação intelectual
A primeira marca materna que quero destacar é aquela deixada na formação intelectual daquela criança
Numa época em que poucos se preocupavam em despertar o interesse das crianças pelos estudos e pela busca do conhecimento, um menino, que poderia estar brincando na praia, deixa suas atividades lúdicas e se encontra aos pés de um renomado mestre, que conferenciava nas colinas próximas.
Sabendo como são as crianças, não é difícil imaginar que este menino (ou menina) tinha uma mãe interessada no seu desenvolvimento intelectual. E que foi por sua influência que aquela criança se dispôs a ouvir o famoso rabino que lecionava na redondeza.
Vale notar que, no tempo de Jesus, religião e educação eram basicamente uma coisa só. Preocupar-se com a educação era o mesmo que se preocupar com o desenvolvimento espiritual. Deduzimos daí que o incentivo recebido da mãe deixou marcas intelectuais e espirituais permanentes naquela criança.
Segunda marca: vigor físico
Podemos perceber nitidamente uma outra marca materna evidenciada pelo vigor físico daquela criança
Eis aí um menino sadio (ou uma menina sadia), cuja autonomia e vigor lhe permitem caminhar pelas colinas e acompanhar com disposição o peripatético professor, durante longas horas-aula.
Também não nos deve passar despercebido o fato evidente de que, ao enviar o filho (ou a filha) para a escola itinerante do ilustre professor, aquela mãe não o despede de mãos vazias. Antes, o guarnece com uma substanciosa merenda: cinco pães e dois peixes – um pouco exagerado, é verdade (coisas de mãe!). Isso demonstra o cuidado de uma mãe que se preocupa, sim, com o desenvolvimento intelectual e espiritual do filho (ou da filha) sem se descuidar da sua saúde e do seu bem-estar físico.
Mais uma notinha exegética importante: a palavra “peixinho”, que aparece nos versículos 9 e 11, – opsarion, em grego – significa um prato preparado com peixe, cozido e temperado com sal e condimentos. Isso quer dizer que o menino não tinha consigo peixes frescos (que não resistiriam muito tempo à temperatura ambiente), mas comida saborosa, cuidadosamente preparada (uma moqueca? um pirão? um apetitoso bacalhau?).
Um menino saudável, uma menina saudável: eis aí outra marca definitiva do cuidado materno.
Terceira marca: nobreza de caráter
Uma terceira marca materna transparece por meio da estatura do caráter daquela criança
Além da formação intelectual e do desenvolvimento físico, podemos perceber que aquela mãe também marcou definitivamente o caráter dessa criança porque, justamente quando a multidão estava faminta, e Jesus propôs que as pessoas repartissem o alimento, todos esconderam o que tinham. Só o menino (ou a menina) fez diferente: ele foi o único que ofereceu o seu lanche para Jesus e para a multidão.
Com quem teria ele aprendido a repartir? Como esse menino teria aprendido a praticar a misericórdia? Com quem teria aprendido a ser solidário? Provavelmente aprendera isso na sua própria casa, com sua mãe.
Peroração
Que maravilhoso encontro este entre Jesus e a criança. A Bíblia não fala explicitamente da mãe, mas a leitura atenta nos revela: ela está lá! E podemos ver suas marcas não somente no umbigo do menino, mas na sua estatura intelectual, na sua integridade física e, principalmente, na força do seu caráter.
Para sermos justos nestas reflexões, devemos considerar a hipótese de que talvez o menino não tivesse mãe. E se ele talvez fosse órfão? É uma possibilidade. Pode ser, então, que ele tenha aprendido tudo isso com o pai, talvez com uma tia, ou com a irmã mais velha, ou ainda com a avó ou a mãe adotiva. Seja como for, ou com quem quer que tenha sido, foi alguém que deixou nele marcas maternas.
Todos aqueles e todas aquelas que nos marcam exercem sobre nós uma espécie de maternidade. Ao olhar para o meu umbigo, eu vejo a minha mãe. Ao observar a minha estatura física, a minha maturidade intelectual, e a estatura do meu caráter, eu vejo aqueles e aquelas que maternalmente influenciaram e marcaram a minha vida. Temos, portanto, mãe e temos mães.
Então, feliz Dia da Mãe, feliz Dia das Mães.
(Pregado pela primeira vez na Igreja Metodista em Rudge Ramos, 2004)
Super Value Royalty-Free (RF), 42-17333913
Meu abraço, umbigado.
Olá Pastor!
Pra variar, amei o texto! Eu sempre pensei na “lancherinha” do garoto e ficava imaginando coisas a respeito desse evento. Você me ajudou a ir além, como sempre faz em seus inscritos. Deus te abençoe e inspire sempre… Abraço.
Professor parabéns pelo texto “Umbigo de criança”, nunca havia olhado este texto da forma como ele foi apresentado aqui.
Que Deus possa abençoa-lo cada vez mais, falando sempre ao seu corção, e inspirando-o a escrever mais mensagens como esta.
fica na paz e grande abraço…