O dogma mata, mas o poema vivifica
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O episódio da visita de Nicodemos a Jesus é mais bem compreendido se lido em paralelo com a visita de Jesus à Mulher Samaritana. São dois encontros enigmáticos. Um, com o homem Nicodemos, que se dá no meio da noite; o outro, com a Mulher Samaritana, que acontece no meio do dia.
Nicodemos é homem importante, rico, ancião, e integra a elite dirigente do povo de Israel. Como membro do Sinédrio, é considerado um nobre legislador e, como fariseu, está entre os mais conceituados mestres do povo.
A Samaritana, por sua vez, é mulher do povo. Sem nobreza, nem riqueza, sem moral nem estirpe. Na narrativa não recebe sequer um nome.
Ambos, ao se depararem com Jesus, sentindo um misto de vergonha e medo, despejam sobre ele suas dúvidas: Como? Quem? Quando? Onde?
Nicodemos, legalista e dogmático que é, interpreta as palavras de Jesus literalmente: “Acaso pode um homem velho tornar a entrar no ventre da mãe para renascer?” Não percebe que Jesus está fazendo poesia: “Você precisa nascer de novo –do alto, da água e do vento–, para conhecer a liberdade.” (ver Jo 3)
A Mulher também interpreta Jesus literalmente: “Você não tem um balde, como se oferece para tirar água do poço e matar a minha sede?” Mas Jesus se referia à água da vida, aquela tirada de uma fonte da qual jorra vida eterna… (ver Jo 4)
Ah, que lição! Jesus não oferece dogmas, mas poemas. Porque sem poesia não é possível nascer de novo. Sem poesia ninguém tira água viva do poço da eternidade.
Reverendo Luiz Carlos Ramos†
Por uma igreja de mentes abertas, corações abertos e braços abertos
Para o Domingo da Santíssima Trindade | Ano B, 2018
Fantástica reflexão!