Oração pela paz

Saudações

Reitor e vice-reitor, aqui representados pela Diretora Patrícia
Frei Vitório, anfitrião
Janaína, kardecista 
Pastor Leandro, família evangélica pentecostal
Babalorixá Ademilson e irmãs/irmãos candomblecistas 
Xeique Jaloul, do Islam
Luciano, Seicho-No-Ie
E família USF, especialmente nossos queridos, queridas estudantes

Metodismo, protestantismo e cristianismo

Eu sou pastor da Igreja Metodista, que é um braço do protestantismo histórico de missão, que por sua vez integra a grande família cristã. 

Religiões abraâmicas

O cristianismo, por sua vez, junto com o judaísmo e o islamismo conformam as chamadas religiões abraâmicas (que se originam do patriarca Abraão e das matriarcas Sara e Hagar)

Religiões ancestrais

Essas grandes tradições, por sua vez, herdaram muito de suas crenças, convicções, ritos e rituais de muitas outras religiões ancestrais do Oriente, do Oriente Médio, da África e ainda de muitos outros lugares.

Grande família humana

Ter essa consciência de pertencimento é chave para admitirmos que não existe religião pura. 

Todas elas se constituíram a partir das múltiplas interinfluências e, por essa razão, na construção da nossa identidade, somos todos devedores uns aos outros. 

Conquanto diferentes, somos todos parte de uma única família humana.

Húmus/Terra

Mas resta a pergunta: e de onde as religiões ancestrais teriam tomado as suas crenças, convicções, ritos e rituais? A resposta é óbvia, da Natureza. 

Isso porque, na nossa substância essencial mais pura, nós, humanos, somos da terra, somos de terra e, mais, nós somos a terra que respira e que adquiriu consciência. 

A palavra “humano” tem a mesma raiz da palavra “húmus” = terra, adubo, esterco…

Tem ainda a mesma raiz da palavra “humilde”. Humilde é aquela pessoa que sabe que não passa de húmus, terra, esterco…

Ecumenismo

Quero, aqui, reafirmar ainda que sou convictamente ecumênico. 

As palavras “ecumênico” e “ecumenismo” têm origem no grego óikos+mono = casa única. Essa ideia enfatiza o fato de que somos todos habitantes de um mesmo lar, vivemos sob um mesmo teto, temos um mesmo pai/mãe e somos todos irmãs e irmãos. 

Nessa casa comum não há “eles” e “nós”, porque todos somos “nós”; assim como não existe “dentro” e “fora”, porque tudo é “dentro” — se não pararmos de produzir lixo teremos que viver literalmente no meio dos nossos dejetos e excrementos. 

Não sou terrivelmente evangélico, mas sou radicalmente ecumênico, o que implica considerar toda a humanidade como minha família —com suas mais diversas crenças e descrenças— e a terra toda como a minha casa. 

O fundador do metodismo dizia: “O mundo é minha paróquia!” E eu reafirmo: “A minha paróquia é o mundo”.

Essa sororfraternura não envolve somente a espécie humana, mas toda a fauna e flora que conformam o jardim da nossa casa comum. E, mais, também são nossos irmãos os rios, as montanhas, o Sol, a Lua, as estrelas, como bem aprendemos do nosso patrono, Francisco de Assis.

Uma “estória” sobre lagartixas e dinossauros

Permitam-me contar uma historinha inspirada na lucidez do saudoso mestre, poeta, profeta, filósofo, psicanalista Rubem Alves.

Lagartixa

Era uma vez uma lagartixa muito faminta que tinha um apetite incomum.

Ela comia tudo que podia e até o que não podia. Comia até a comida das outras lagartixas.

Por causa disso ela foi ficando cada vez maior. E viu que isso lhe dava vantagens sobre as outras lagartixas. 

Então resolveu adotar o slogan: Quanto maior, melhor!

Lagarto

Um dia, a lagartixa se deu conta de que tinha se transformada num robusto lagarto.

Esse lagarto também era voraz e comia tudo que podia e o que não podia. 

Por causa disso o lagarto foi ficando cada vez maior. E pensava consigo mesmo: Quanto maior, melhor!

Jacaré

Cresceu tanto que, um dia, o lagarto se deu conta de tinha se transformada num corpulento jacaré.

Esse jacaré era insaciável e comia tudo que podia e não podia.

Por causa disso o jacaré foi ficando cada vez maior. 

E pensava consigo mesmo: Quanto maior, melhor!

Dinossauro

Num outro dia, o jacaré se deu conta de que tinha se transformado num descomunal, imenso e terrível dinossauro. 

Esse dinossauro comia tudo que podia e não podia. 

Como era muito grande, ele conseguiu comer todas as plantas, as árvores, e comeu também todos os animais que havia na terra… 

Até que que não sobrou nada.

O resultado foi óbvio. Sem ter mais o que comer, vocês imaginam o que aconteceu com o dinossauro: ele foi extinto!

O maior predador da terra

Na verdade, essa história não é sobre lagartixas e dinossauros, mas sobre o maior de todos os predadores do planeta: o ser humano.

Justiça socioambiental e crise climática

Por essa razão enfatizo aqui nosso compromisso com o cuidado da nossa casa comum, porque a natureza está sofrendo, a sociedade está sofrendo, especialmente as parcelas mais empobrecidas e vulneráveis. 

Prova de que estamos atravessando uma crise climática sem precedentes, é que este foi o inverno mais quente dos últimos 200 mil anos. 

E os causadores desse aquecimento global, dessa crise climática, têm nome e sobrenome: chama-se Homo Sapiens. 

Mas precisamos ser honestos e proféticos, de acordo com a mais sublime tradição das verdadeiras religiões, que sempre denunciaram o pecado e anunciaram a esperança.

Denúncia

Os maiores responsáveis pelo desiquilíbrio ambiental que estamos vivendo são os madeireiros ilegais que devastam as florestas; os garimpeiros ilegais que poluem os rios; o agronegócio predatório e inescrupuloso que devasta as reservas e santuários ecológicos; os empresários e acionistas gananciosos com suas indústrias que poluem a nossa atmosfera… e cada um, cada uma de nós, que contribuímos para a degradação do planeta, com pequenos gestos e ações de desrespeito e de falta de cuidado, ou ainda com o nosso terrível silêncio.

Sim, o maior pecado é responder com silêncio ao grito da natureza e ao grito dos pobres.

Esperança

Contudo como religiosos, homens e mulheres de fé, temos que reafirmar a esperança. 

Temos uma chance se tivermos a coragem de substituir o slogan “quanto maior melhor”, pelo lema “menos é mais”, e adotarmos um estilo de vida menos consumista e predatório, e mais colaborativa e respeitosa para com a natureza e a humanidade.

Oração

Invocamos teu mais sagrado nome, 
ó Deus-Amor,

Para render-te graças pela centelha divina plantada nos corações humanos

Que nos torna capazes de amar e de sermos amados.

Amamos, porque tu nos amaste primeiro

E, por esse amor, te reconhecemos naqueles e naquelas que amamos.

Por ele, tocamos delicadamente o coração humano  

E roçamos ternamente o horizonte divino.

Deus-Amor,

Rendemos-te graças pelo amor e pelos que se amam.

Que cuidam e se deixam cuidar;

Que curam e se deixam curar;

Que perdoam e se deixam perdoar;

Que amparam e se deixam amparar;

Que respeitam e se dão ao respeito;

Que velam e se desvelam. 

Rendemos-te graças pelos que constroem casas para nelas habitar,

Mas ainda mais por aqueles e aquelas que edificam lares para neles conviver.

Rendemos-te graças pelos que coexistem,

Mas muito mais por aqueles e aquelas que convivem e compartilham

Suas lágrimas e alegrias;

Suas dores e prazeres;

Suas frustrações e esperanças;

Seus infortúnios e felicidades.

Rendemos-te graças por aqueles e aquelas 

Que espalham sonhos e alegrias no caminho

E oferecem a própria vida

Para que se renove a esperança;

Para que haja aurora a cada dia

Pra que a vida dê flor e fruto;

E para que, ao final, a vida sobreviva.

Bênção

Paz para todas as nações
do Norte e do Sul
do Oriente e do Ocidente

Paz para todos os povos
Brancos e negros,
Amarelos e Vermelhos.

Paz para todos os homens
Paz para todas as mulheres
Paz para todas as pessoas
Especialmente as crianças de todas as idades e todos os lugares.

Que a Suprema Paz
Permaneça sobre toda paz.

Luiz Carlos Ramos